Há uns anos, li e guardei na memória algumas passagens de um daqueles artigos de suplemento de fim de semana. O tema era o recrutamento e a seleção de profissionais nas mais diversas áreas. Confesso que perdi o rasto à sua origem, mas recordo-me bem de alguns exemplos, até porque os menciono com frequência nas aulas. Explico-me, por vezes em jeito de justificação para o que faço na escola, que as empresas aplicavam, no recrutamento, técnicas ousadas de seleção que se desligavam do mero currículo para observar reações, interações, o comportamento em equipa e as competências sociais.
Os exemplos eram curiosos: uma cadeia de lojas de roupa que punha os candidatos a dançar, procurando identificar aqueles que mais interagiam com os pares; ou bancos e empresas, à procura de gestores, que reuniam os candidatos para competir em escape rooms, com tudo o que esse contexto competitivo possa revelar.
Ora, há muito que percebi que, para um aluno com mais de uma dezena de disciplinas no ensino básico (ou mesmo no secundário) e currículos densos e desfasados da realidade, não basta ter boas notas e estudar para testes. É necessário mais. A realidade não precisa apenas de alunos que dominem fórmulas ou tenham uma enorme capacidade de memorização.
Para muitos dos meus colegas de profissão, algo que se desvie do manual, do teste ou de uma qualquer novidade na aula parece algo impossível. Seja pela perspetiva do ensino, seja pela desculpa de que os conteúdos são extensos (como se os alunos tivessem capacidade de absorver tanta coisa), ou pelo medo de fugir a critérios de avaliação que se centram, em 2025, numa média de testes. Ainda ninguém me conseguiu explicar como é que esses testes avaliam, devidamente, aquilo que o mundo do trabalho procura e que, se calhar, uma bela Caça às Prendas de Natal ajuda a desenvolver muito melhor.

