Normalmente, por esta altura do ano, aproveitávamos uma pausa das chuvas, pegávamos na máquina fotográfica e dedicávamos uma a duas horas a fotografar os jardins da Escola Secundária da Lixa. Era uma espécie de ritual que nos despertava do inverno, nos impelia a voltar ao exterior, à imensidão que ele nos oferece. Descobríamos novos rebentos, alguns galhos partidos, as agruras da chuva, novos ninhos, os melros e o despontar das espontâneas por entre um profundo verde. Na verdade, nem era bem uma descoberta, era algo cíclico, que de repente surgia e podíamos contemplar. Mas tudo mudou.
Nos jardins, já não se ouve o chilrear dos pássaros, não se veem melros, as árvores abatidas deixaram de ser abrigo de ninhos e palco do chilrear, e os seus troncos jazem como destroços de uma batalha desigual e, acima de tudo, injusta. Foram as vítimas de um desleixo tecnocrata de anos, que apenas viu nelas a importância da aparência. Ironicamente, nem para isso servem, mortas como estão.