O azevinho nas festividades de natal.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013 · Temas:

Para falarmos da presença do azevinho no idílico natalício, temos necessariamente de começar por falar do visco, uma planta arbustiva, invasora de diversas árvores. Ao passo que o azevinho tem uma distribuição geográfica centrada no sul da Europa, aparecendo, no entanto, em regiões mais setentrionais como a França e o Reino Unido, o visco apresenta uma distribuição geográfica mais variada. Embora visualmente próximas, sobretudo devido à folha perene e às bagas, tratam-se de espécies diferentes.

No norte da Europa podemos encontrar o Viscum album, mistletoe em inglês, de folha arredondada, cujas bagas possuem propriedades medicinais, e que antigamente eram usadas em remédios. Em jeito de curiosidade, refira-se que o druida Panoramix, da série de banda desenhada Asterix, costumava colher o gui (visco em francês) das árvores, para curar muitas maleitas da famosa aldeia Gaulesa.

Pai Natal Verde

As reconhecidas propriedades terapêuticas das bagas do visco, concederam a esta planta arbustiva um caráter sagrado. As civilizações pré-Cristãs consideravam-na como uma representação do poder divino e os celtas usavam-na como remédio para a esterilidade dos animais e um antídoto de venenos. Com o advento do cristianismo, o conhecimento profano dos druidas, que «colhiam o visco com uma foice de ouro sem o deixar cair no chão», foi perseguido por romanos e cristãos e nunca chegou a ser escrito, perpetuando-se desde tempos pré-medievais até aos dias de hoje, através da arte e imagens que a cristandade fez materializar em representações natalícias.

As bagas do visco são venenosas, mas se usadas em quantidades certas, e por quem sabe, têm efeitos terapêuticos que, no passado, podiam considerar-se quase milagrosos. Ora, a igreja sempre soube sacralizar muito bem o profano, e aquele saber permitiu que as imagens de druidas e homens verdes 1 se tornassem, paulatinamente, em aspetos decorativos de colunas, cantos, recantos e painéis de igrejas e catedrais, misturados com crânios, anjos, gárgulas e outros aspetos figurativos.

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Deste modo, o visco, e a adaptação meridional do azevinho, tornaram-se perfeitamente legíveis no cenário natalício e, inclusivamente, nas primeiras imagens daquilo que se veio a tornar nos dias de hoje o Pai Natal. Algumas das imagens antecedentes à fabricação por parte da Coca-Cola, da ubíqua imagem barriguda e de barrete vermelho, mostravam-nos um ser sagrado, adornado com visco e azevinho (holly em inglês) em torno do corpo, da barba e do cabelo, que o protegiam e concediam uma aura de sacralidade.

Se inicialmente foi visto como um santo, a associação aos druidas e homens verdes de tempos antigos, tornou-se posteriormente bastante evidente. As ilustrações de «Um conto de Natal» de Charles Dickens, realizadas por John Leech, mostram-nos um Pai Natal gigante, um fantasma, usando um robe necessariamente verde, cabelo emaranhado em visco, uma cornucópia de abundância, e uma expressão de bondade, condizente com o verdadeiro espírito de natal. No fundo, a ligação entre o atual Pai Natal, o espírito da dádiva e os druidas ou homens verdes do passado.

A Christmas Carol - Ghost Present


1 O homem verde é uma figura popular e de múltiplas variações. Está presente em culturas ancestrais e é muitas vezes relacionado com divindades relacionadas com a natureza, como é o caso.

Fontes:

Wikipedia

- http://en.wikipedia.org/wiki/Ilex_aquifolium 

- http://en.wikipedia.org/wiki/The_Holly_and_the_Ivy

- http://en.wikipedia.org/wiki/Mistletoe

- http://en.wikipedia.org/wiki/Green_Man

The Journal Of Antiques and Collectibles 

- http://www.journalofantiques.com/Dec06/feature.html

David Perdue's Charles Dickens Page

- http://charlesdickenspage.com/carol-dickens_reading_text.html

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