Comecemos pelo título. Se durante muitos anos o Porto foi apenas sinónimo de futebol, vinho, alguma gastronomia, dum sotaque caraterístico e do S. João, hoje é felizmente bem mais do que isso. Trata-se de um inédito fulgor que a Invicta parece querer apresentar nestes últimos anos, que muitos lhe chamam, redutoramente, de movida. Ora, este fulgor é bem mais do que isso e há causas que o explicam.
Se olharmos para o calendário portuense, nota-se que este está cada vez mais pontuado por uma série iniciativas culturais / comportamentos sociais, que paulatinamente esbatem a distância da cidade-região em relação àquilo que a Europa já pratica há muito. Que iniciativas são essas? Do que é que falamos afinal? De muita coisa!
Vejamos, se percorrermos as ruas da cidade num sábado perdido no calendário, deparamos com uma série de iniciativas culturais, que lhe conferem um cosmopolitismo nunca visto, dado o seu caráter espontâneo e particular. Trata-se de iniciativas simples e salutares, tais como a Feira de Artesanato e de Antiguidades na zona dos clérigos, as permanentes exposições e inaugurações coletivas em Miguel Bombarda, o recente Vodafone MexeFest, o Fantasporto, o atual RedBull Music, as variadas instalações de Serralves (que parece ter descoberto a baixa recentemente…), os concertos da Casa da Música, espalhados um pouco por todo o lado, as iniciativas musicais de uma série de bares e espaços culturais, o TNSJ… e muitas, muitas mais.
Todas estas iniciativas, muitas delas de baixo custo de realização, geram mais-valias que se traduzem em mais gente na rua, que se reflete abonatoriamente para cidade em geral, e para o comércio local em particular. Contraria-se, deste modo e de certo modo, a tese fatalista da asfixia comercial, provocada pelo espartilho de centros comerciais em torno da cidade.
Assim, e ao que se vê, é possível devolver as pessoas à cidade sem que tal passe, apenas, pela recuperação do degradado parque habitacional. Mesmo neste sentido, tem-se visto algumas iniciativas salutares de reabilitação estrutural do miolo central do Porto, nomeadamente com recuperação e readaptação de alguns edifícios centrais emblemáticos, em hotéis e hostels, numa tendência que responde à crescente procura turística que a cidade-região tem vido a ser alvo. Claro está que está que há muito mais a fazer a este nível, pois urge atrair moradores, urge criar incentivos legais e económicos ao arrendamento, urge criar uma verdadeira política de transportes públicos que afastem os automóveis da cidade. Contudo, e mesmo sem uma resolução cabal destes problemas, estas iniciativas, conjugadas com o salutar renascimento cultural, permitem ao Porto ir recuperando da agonia a que esteve votado durante décadas.
Grande parte da responsabilidade deste lento e recente despertar, deve-se inclusão do Porto no vértice de várias rotas aéreas europeias por parte de algumas companhias de baixo custo. A principal, a RyanAir, constituiu inclusivamente uma base aérea no Aeroporto Francisco Sá Caneiro, criando deste modo a possibilidade barata de milhões de potenciais turistas europeus visitarem a cidade-região. Uma outra infraestrutura similar, prestes a entrar em funcionamento, é o novo cais de passageiros de navios de cruzeiro situado em Leixões. Projeções recentes mencionam que com este novo equipamento, a região possa beneficiar de um acréscimo de centenas de milhares de turistas anuais, estes de um segmento mais elevado e maior poder de compra. Estes dois equipamentos multiplicadores, aliados a uma excelente relação qualidade-preço do alojamento e alimentação, colocam o Porto na moda.
Refira-se por último, que o empreendedorismo de jovens empresários que conseguem entender esta nova dinâmica económica tem de facto contribuído decisivamente para o despertar do Porto. Trata-se de uma geração diferente, mais ousada e culta, que nitidamente colecionou uma série de experiências, que tentam fazer vingar no Porto. Desde concertos e festivais musicais de grande envergadura, a iniciativas propagadas por espaços culturais, passando pelo florescimento de uma nova vida noturna na baixa, com novos tipos de comércio à mistura, são estes os verdadeiros impulsos revitalizadores da cidade, que não se compadecem com a fórmula gasta de reivindicações face à capital.
Acima de tudo o Porto depende de si mesmo, e terá de o entender a bem de si próprio, a bem de uma região e a bem do país.
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ResponderEliminarQuando se trata do Porto não consigo ser imparcial. Como alguém disse um dia: O Porto é isso e muito mais!!!
ResponderEliminarLamento, apenas, que os destinos internacionais sejam os preferidos de muitos, em detrimento da exploração desta cidade que tem tanto para ver e conhecer.
Obviamente apoiado! ;)
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