O Porto, tal como outras cidades do país, assistiram recentemente a uma transição do seu comércio assente nas ruas da baixa, para um comércio de galeria comercial e mini-shoppings e, mais recentemente, um comércio assente nos grandes centros comerciais periféricos. No final dos anos 70 e durante a década de oitenta, Portugal vivia novidade da democracia e os dinheiros vindos da Europa impeliram-nos para uma modernidade pouco sustentada. O surgimento de galerias comerciais e pequenos shoppings, um pouco por toda cidade, foi assim uma necessidade própria do tempo do tempo, num país ávido de consumo. Eram os tempos da “Rapariguinha do Shopping”, imortalizados na célebre canção de Rui Veloso.
Toda aquela artificialidade comercial decaiu e paradoxalmente há uma tentativa de voltar ao comércio de rua. Num interessante artigo sobre os pequenos centros comerciais do centro do Porto, a jornalista Marta Neves (JN) descreve o definhar daquele período:
Centro Comercial Invictos (Foto: Leonel de Castro - JN). |
«Os pequenos centros comerciais, que resistem estar de portas abertas no centro da cidade do Porto, estão ao abandono. Em edifícios “parados no tempo” e sem oferecerem estacionamento, sugere-se aos comerciantes que apostem em formação. “O mundo perdido – Jurassik Park” foi o título do filme com que a sala Pedro Cem se despediu do cinema. Corria o ano de 1997. Um encerramento, esclareceu na altura a Lusomundo, ditado pela “inviabilidade económica”. Áureos
Mais de dez anos volvidos, as lojas que circundavam o cinema são “galerias fantasma”. A correspondência amontoa-se debaixo das portas de salas vazias, e no piso subterrâneo só o rádio ligado, num pequeno compartimento do zelador do edifício, faz perceber que continua a haver vida. Já por ali houve uma loja de computadores, um café, uma seguradora e até uma agência de viagens. Agora, apenas um cabeleireiro, uma cafetaria e uma loja de quadros resistem abertos.
Uma das cabeleireiras espreita de dentro, desconfiada. Só acede à conversa depois de destrancar a porta. Mesmo assim, fala que o “negócio está mau em todo o lado” e que “vai tendo” as suas clientes habituais. “Talvez porque estou junto à rua”, assegura. Mas é certo que quem se atreve a descer a escadaria sente medo, até porque todas as lojas estão abandonadas.
Nuno Camilo, presidente da Associação dos Comerciantes do Porto, explica que “nas décadas de 80 e 90 houve uma proliferação excessiva de pequenos centros comerciais na cidade e o fecho das lojas é o primeiro sinal de que a oferta é demasiada”. Já na opinião do arquitecto João Duarte os antigos shoppings do Porto estão sentenciados por edifícios “obsoletos, parados no tempo”. “Têm corredores estreitos, com pouca luz e são labirínticos, criando uma sensação de insegurança aquém por ali se passeia. Já para não falar que não têm parque de estacionamento”, acrescentou.
Porém, subindo a Rua de Júlio Dinis em direcção à Praça de Mouzinho de Albuquerque percebe-se que o Parque Itália soube adaptar-se aos novos tempos. “O parque de estacionamento tornou-se numa mais-valia”, confirmou, ao JN, Eva Jacinto, 61 anos, com o negócio de decoração espalhados por três lojas.
No entanto, a abertura da nova esplanada poderá fazer “estremecer” a actividade de Anabela Moreira, 53 anos. “Já servi 20 refeições por dia, agora só vendo metade. Cá dentro estamos muitos escondidos”, afirmou. Ainda assim, Eva Jacinto explica que a localização do Parque Itália “saí favorecida” por estar junto das actividades de negócios que gravitam na zona da Boavista. “Mais lá para baixo, as lojas vão fechando, umas atrás das outras. É um caos”, sentenciou. […] Resta aos comerciantes apostarem “em formações para cativar o público com um atendimento mais profissional”, apontou Nuno Camilo, sublinhando a importância “de dar a conhecer os produtos, através da internet”.
- Marta Neves - Jornal de Notícias em 4 de Julho de 2010.
Não há arquitectos competentes em Portugal?
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