Há muita poeira no ar, e a culpa desta vez não é nem das indústrias, nem dos automóveis. É do deserto. Portugal está sob a influência de uma nuvem de poeiras vindas do Norte de África, que está contribuir para níveis elevados de partículas no ar.
É um fenómeno natural que acontece com alguma frequência, segundo Francisco Ferreira, especialista em poluição atmosférica e professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa. Portugal tem vindo, nos últimos dias, a ser varrido por uma massa de ar quente vindo do Norte de África e do interior de Espanha. E, além do calor, essa mesma massa de ar está a transportar as poeiras.
No Algarve, em alguns pontos onde choveu ontem, a poeira assentou sobre carros, varandas e roupas no estendal. “Se não chover, não se nota”, diz Francisco Ferreira. O único sinal pode ser uma faixa amarelada no horizonte.
As estações da qualidade do ar estão, no entanto, a acusar a passagem da nuvem do deserto. Dados de hoje, publicados pela Agência Portuguesa do Ambiente, indicam que, em vários pontos do país, a concentração de partículas (PM10) estava a ultrapassar o valor-limite para a protecção da saúde humana – que é o de 50 microgramas por metro cúbico, em média diária. “Parte desses valores é devida a esse fenómeno natural, não há qualquer dúvida”, afirma Francisco Ferreira.
Em 2009, situações semelhantes afectaram a qualidade do ar em Portugal durante 141 dias, quase um terço do ano. Já 2010 “está a ser mais fraco”, avalia Francisco Ferreira. Até agora, houve já 40 dias de influência da poluição natural vinda das zonas áridas do Norte de África.
A evolução desta situação é seguida diariamente pelo Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da FCT. O seu peso sobre a qualidade do ar não é contabilizado, no entanto, para efeitos de cumprimento da legislação comunitária – segundo a qual só pode haver 35 dias por ano com valores acima do limite para partículas.
Fonte: Jornal Público - Ricardo Garcia - 7 de Julho de 2010.