Já tentei recordar o momento em que deixei de acreditar no Pai Natal. Mas não o consigo fixar na memória; suspeito que tenha sido um processo gradual, daquele tipo silencioso e incómodo em que algo começa a não bater certo… uma incoerência aqui, outra ali, até a fantasia se desfazer por completo.
Ora, apesar de, nesta primeira ronda de entrevistas, os meus fregueses garantirem, com ar convicto, que já não acreditam no Pai Natal, a verdade é que, olhando para as autoavaliações de final de período a Geografia e Cidadania, as duas disciplinas que leciono este ano letivo ao “básico”, ainda subsiste uma fé inabalável numa espécie de milagre natalício: avaliações generosas que descem pela chaminé, aos trambolhões, sem grande esforço prévio, mas muito aviso.
Portanto, veremos o que o Natal trará. Quanto a mim, nunca acreditei em milagres. Ou, sendo mais rigoroso, acredito apenas naqueles que dependem de nós. E, de facto, o Pai Natal não existe.
