A Araújo & Sobrinho é talvez a mais antiga papelaria do mundo. Situa-se no Porto, no recém-remodelado Largo de S. Domingos, mesmo no início da Rua das Flores. Contudo, há que mudar o tempo verbal, pois a papelaria do Cavalo Marinho já não se situa, situava-se. Infelizmente, mudou de instalações e reabriu a cerca de 50 metros, no estabelecimento que albergou a também histórica Drogaria Moura, entretanto falida.
O edifício que albergou durante quase 200 anos a papelaria, transformou-se num hotel temático, o AS Hotel 1829, herdando o espólio da tipografia que a papelaria também possuía. Onde se vendia papel importado do oriente a uma fina camada burguesa de ingleses estabelecidos no Porto há séculos, está um balcão de receção de hóspedes que chegam aos milhares de todo o mundo.
E se aqui não nos cansamos de elogiar este impulso turístico, que aos pouco tem retirado o Porto de uma letargia de décadas, também pelo mesmo motivo é frequente chamarmos à atenção para casos como este que ao de leve apagam a memória da Cidade, que é no fundo o que a torna a especial e atrativa. Infelizmente não é caso único. Pela baixa, e não só, multiplicam-se os casos de antigos comércios desaparecidos, transformados em bares da moda, ou em sofisticados locais de aperitivos gourmet, iguais a tantos outros.
Claro está que a dinâmica comercial sempre assim funcionou, mas não no ritmo a que se assiste e no denominador comum que os novos negócios, entretanto estabelecidos, parecem querer impor. O turismo é sem dúvida bem-vindo ao Porto, a nossa cidade, mas nem tudo pode ser turismo, sob pena de nos tornarmos numa coisa plástica e repetida, sem alma.