Sabe o que eu queria, menina? Outro 25 de Abril.

domingo, 20 de abril de 2014 · Temas: ,

A frase não é nossa, citámo-la de um artigo do Público do passado domingo, que diagnostica o salário mínimo nacional, quarenta anos após a revolução. «Quarenta anos depois, Deolinda é apenas um dos perto de 400 mil trabalhadores que auferem o SMN. Entre o universo de 3,5 milhões de trabalhadores por conta de outrem, o Instituto Nacional de Estatística conta cerca de um milhão a receber entre 310 a 599 euros líquidos […]».

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O artigo adianta que «[…] para conferir aos trabalhadores o mesmo poder de compra que ganharam em 1974, seria necessário aumentar o SMN para os 584 euros».

«De volta à vida real, Adelaide Paiva, 56 anos, a trabalhar desde os 14 anos na mesma confecção, no Porto. “Ganhei sempre o salário mínimo. Em tempos, tivemos um pequeno prémio de produtividade, mas depois, quando os patrões que eram alemães se foram embora e a fábrica passou para portugueses, isso acabou”. Líquidos, Adelaide leva para casa 432 euros, a que se soma o subsídio de alimentação. Mas nem sempre. “Se nos atrasarmos nem que seja um minuto a picar o ponto, perdemos logo esses 2,46 cêntimos. É a regra da empresa”. Que obriga a que o trabalhador esteja sentado no seu posto de trabalho às 7h55 da manhã.

Olhando para as tabelas oficiais, é fácil concluir que Adelaide viu o seu salário aumentar 100 euros em oito anos, entre 2006 e 2014. O que as tabelas não mostram:

"Na confecção, já vi trabalhadoras a chorar de aflição, principalmente as que têm filhos pequenos. Há uns anos, a empresa dava sopa aos funcionários durante o almoço. Muitas, com essa sopinha e uma peça de fruta que trouxessem de casa, já se remediavam. Não gastavam dinheiro. Há uns tempos a empresa deixou de dar essa sopa. Disseram que era temporariamente, por causa das dificuldades económicas, mas nunca mais voltaram a dar."

Como Deolinda, Adelaide não faz férias nem come fora de casa. “Pior está quem tem crianças pequenas. Podem não passar fome, mas não há carne e peixe e fruta com o salário que têm. E pode acreditar que 15 euros podem fazer uma enorme diferença. São mais uns pacotes de leite, mais uns iogurtes…”».


Fonte: Jornal Público, 13 de abril de 2014

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