As ondas oceânicas são resultado da ação do vento que exerce uma força de fricção e pressão sobre a água. Quanto mais energia o vento despender naquelas ações, maior será a onda. Tratam-se assim de movimentos ondulatórios com características específicas.
Por norma, uma onda apresenta partes altas (cristas) e baixas (cavas). A diferença de altitude entre as cristas e as cavas resulta na altura da onda. Já a distância horizontal entre dois pontos homólogos consecutivos (duas cristas ou duas cavas) resulta no comprimento de onda. Ao número de cristas que passam por um determinado ponto durante um minuto denominamos por frequência.
Em dia de vento forte, este elemento deforma a superfície do oceano, criando pequenas ondas com cristas arredondadas e cavas em forma de "V" e com comprimentos de onda muito curtos, inferiores a 1,74 cm. Chamam-se rídulas (ripples) e a tensão superficial da água tem tendência a destruí-las, restaurando a superfície lisa da água.
«À medida que estas ondas se desenvolvem, a superfície do mar ganha um aspecto irregular [na imagem, da esquerda para a direita], o que permite uma maior exposição ao vento e uma maior transferência da energia do vento para as águas. Quando essa energia aumenta desenvolvem-se ondas de gravidade»1.
As ondas de gravidade apresentam cristas pontiagudas de elevada altitude que, na aproximação à costa, e com diminuição da velocidade do vento, podem viajar mais depressa que este elemento. Quando isto acontece, o declive da onda diminui, e elas transformam-se em ondas com longas cristas designadas como “swell” que pode deslocar-se ao longo de grandes distâncias sem perda significativa de energia, pelo que é possível que o swell de diversas tempestades possam colidir e interferir uns com os outros, levando à soma das suas forças. Assim, e por exemplo, o swell resultante de duas tempestades distantes, traduz-se num só, sendo que a força corresponde à soma algébrica dos dois.
As ondas gigantes do mês passado.
Segundo o especialista em Hidráulica Costeira Fernando Veloso Gomes, citado pelo jornal Público, «[as ondas] para além de altas […] têm um período (duração) bem mais longo do que noutros temporais de inverno, e cavalgam sobre um mar com um nível de água um metro, metro e meio, acima do previsto»2.
Ou seja, o elevado comprimento das ondas daqueles dias, a par do empolamento da altura da superfície da água do mar (storm surge), provocado pelas depressões barométricas / tempestade dos dias antecedentes, produziu as inusitadas ondas de 13,5 e 15 metros que galgaram paredões afectando vários pontos da a linha de costa ocidental 2.
Mais, «esta ondulação de características anormais tinha uma orientação noroeste–sudeste rondando para este, ainda antes de chegar à praia, apanhando estas estruturas de frente»2. As estruturas antrópicas de proteção da costa estão primordialmente pensadas para uma deriva de noroeste, quebrando as ondas e impedindo-as de atingir a costa, pelo que a direção oeste-este tomada pelas ondas, tornou ineficaz aquelas estruturas que se alinham perpendicularmente à costa ocidental portuguesa.
Fontes:
KOMAR, P. D., (1998) - Beach Processes and Sedimentation, Prentice Hall, New Jersey.
THURMAN, H. V., (1997) - Introductory Oceanography, Prentice Hall, New Jersey.
1 Maria da Assunção Araújo - Tópicos da matéria da disciplina de Geomorfologia Litoral (disponível em http://web.letras.up.pt/asaraujo/seminario/Aula3.htm);
Wikipedia (tensão superficial; swell; rídulas)
2 Jornal Público de 8 de janeiro de 2014;
Instituto Hidrográfico http://www.hidrografico.pt/produtos.php