1. Após o "stress" das aulas, o verdadeiro sobrevivente precisa dum lugar para se organizar e informar (vulgo, estudar). Procuremos, pois, um local adequado (silencioso, bem iluminado, sem pessoas a passarem, a entrarem e a saírem, a fazerem perguntas). Eliminemos actividades incompatíveis com o estudo: vamos desligar a televisão, não pôr a música aos berros, não ter aberto vários livros ao mesmo tempo (especialmente se nada têm a ver com o nosso trabalho)...
ESL - Dezembro de 2005. |
2. A sobrevivência exige método, antevisão, planos. Elabore um horário de estudo... Como é que isso se faz? Ora essa! É exactamente igual a um horário de aulas: marca-se a hora a que se começar a estudar uma disciplina, quando esta acabar marca-se a disciplina seguinte. Se, por algum acaso não for possível estudar tudo num dia, deve passar-se o que ficou atrasado para o dia seguinte. Se tiver ficado algo para o fim-de-semana, deve ser mesmo estudado nesse fim-de-semana. A regra de ouro é que nada deve ficar duma semana para outra. Esperem! Temos uma pergunta... Sim, aquela jovem junto à janela... Não, há disciplinas que não precisam de ser estudadas "a sério" sempre que temos a respectiva aula. Basta fazer o TPC e depois estudar tudo num único dia da semana. Ah, é isso que faz com o Inglês? Muito bem, com o Inglês é perfeitamente possível. A Matemática? Ah, não, neste caso é necessário estudar diariamente ou quase... Sabem como é... Exercícios aos montes, matérias que se esquecem num momento...
3. A concentração é uma condição essencial para sobreviver. Tendo feito um plano de estudos, comecem à hora marcada. Sem desculpas para adiar o trabalho. Se nos primeiros dias as coisas não funcionam lá muito bem, paciência. O essencial é que às X horas sentem o traseiro numa cadeira, ponham um livro à frente e tentem estudar (nada de se levantarem de cinco em cinco minutos). Passados uns tempos isto será quase uma segunda natureza.
ESL - Dezembro de 2005. |
4. O verdadeiro sobrevivente precisa periodicamente de recuperar forças. Por isso, quando se sente ensonado, cansado ou comichoso durante o estudo, faz um pequeno intervalo. Movimenta-se, dá uma volta pela casa, vai dar dois dedos de conversa à avó, luta com o cão... Mas nunca, jamais, em tempo algum, deita, põe os auscultadores, pega na última banda desenhada... Quando acaba o intervalo retoma o estudo um pouco antes do ponto em que o interrompeu.
5. Todos os apaixonados por ficção científica, parapsicologia, filmes do John Carpenter ou romances do Stephen King sabem que há formas terríveis, insidiosas e malévolas de controlar os pensamentos dos outros. Uma das piores são os "pensamentos parasitas". São verdadeiros ninjas: silenciosos e mortíferos. Apresentam-se quando menos contamos e absorvem -nos totalmente... Quando damos conta, passou-se meia hora e estivemos sentados em frente a um livro a fazer figura de estátua... Assumem formas variadas: podem vir como um episódio que nos irritou e que não conseguimos tirar da cabeça, uma discussão em que fizemos uma triste figura e que agora estamos constantemente a rever, pensando no que dissemos e no que deveríamos ter dito, ou a imagem daquele marmanjão moreno e de olhos sonhadores que ontem nos sorriu... Só há uma solução para eles: expulsá-los da nossa cabeça. Pode ajudar dar uns berros e uns murros na mesa, gritar "Não!" (dirigido ao pensamento parasita, evidentemente)... Depois recomeça-se serenamente, mas mantendo sempre a vigilância necessária.
6. É fundamental decifrar adequadamente todas as mensagens que nos chegam. Por isso, é necessário ler devagar, tentando compreender todo o texto. Voltamos atrás sempre que não se perceba alguma coisa. Não esperem que a continuação da leitura lhes resolva essa dúvida: o mais provável é que as coisas se vão tornando cada vez mais difíceis. Se o problema se resumir a uma só palavra, recorra a um dos muito aliados que nos apoiam nesta dramática tarefa da sobrevivência: o dicionário.
ESL - Abril de 2006. |
7. No meio dos textos encontram-se camufladas, por vezes de maneira engenhosa, as ideias importantes. Acabe-lhes com a camuflagem: sublinhe-as, cubra-as a marcador fluorescente, torne-as visíveis a um quilómetro de distância. Mas atenção: não sublinhe tudo, à medida que vai lendo: o resultado será um risco contínuo por baixo de todas as linhas do texto e as ideias importantes continuarão bem escondidas.
8. Duas técnicas são fundamentais para o verdadeiro perito em sobrevivência: os esquemas e os resumos. Resultam muito melhor se forem elaborados quando se faz a primeira leitura do manual; devem ser claros, curtos, bem estruturados. Mas atenção, muitos dos estudantes não os sabem utilizar: estes materiais devem ser o ponto de partida para, mentalmente, “escrevermos” uma resposta sobre a matéria neles contida. Caso se tenham esquecido de algo, só então recorrem ao manual ou aos apontamentos para refrescar as ideias. Já imaginaram o tempo que poupam quando fizerem revisões ou se prepararem para um teste? Claro que isto não pode ser feito para todas as matérias: imaginem a Matemática em esquemas e resumos...
9. Um dos grandes segredos dos pugilistas famosos, dos judocas que ficaram na História, dos generais que marcaram épocas, foi o saberem prever os movimentos do inimigo. Esta é uma das regras fundamentais da sobrevivência na selva da avaliação: antecipar-se, estudar o que o adversário pode fazer, estar prevenido para tudo. O estudante que não só quer sobreviver, mas ter um regresso vitorioso a casa, recebido com as honras dum César, Gengis Khan, Geesing, Johansson ou Cassius Clay, deve tentar prever a jogada do professor antes do teste. A técnica é simples: imaginem as perguntas que podem sair e tentem responder-lhes. Imaginem-nas simples e directas, arrevesadas, comparando épocas, fenómenos ou obras literárias, exigindo interpretações minuciosas, façam-nas de todas as maneiras e feitios, encham-nas de rasteiras, armadilhas de elefante, ratoeiras... Não quer isto dizer que os professores o façam também, mas que é um bom exercício, é. Melhor ainda, colaborem com um ou mais colegas e troquem as perguntas que inventarem uns com os outros. Os mais novos podem até fazer um concurso, com pontuações, prémios, etc. Os mais velhos, que já estão crescidos de mais para essas coisas, têm uma solução mais simples: quem perder paga o lanche.
- "Eu Marro, tu Marras, ele Marra - Dificuldades de aprendizagem" - Eurico Silva, 2000, Ed. Ambar (Adaptado).
- "Eu Marro, tu Marras, ele Marra - Dificuldades de aprendizagem" - Eurico Silva, 2000, Ed. Ambar (Adaptado).