Está a correr um verão relativamente atípico em Portugal Continental. Julho, normalmente um mês de temperaturas elevadas, até mais do que agosto, surgiu sem ondas de calor (estas também normais), e temperaturas mínimas relativamente baixas. Na e-esl a chuva frontal ocorreu em 7 dias, espaçados no calendário, e o vento predominou de norte e/ou oeste. Tudo isto, enquanto partes da Europa Mediterrânica viam o mercúrio fixar-se em valores extremos, mesmo para o contexto geográfico e época do ano.
A comunidade científica refere que vivemos um ano marcado pelo El Niño, um fenómeno estudado e cíclico, que pode perdurar 2 a 3 anos, e modifica o comportamento de todas as peças do xadrez climático mundial. A sua dimensão sistémica e região de ocorrência, no Pacífico Sul, julga-se influenciar as células de circulação atmosférica e, por consequência, o padrão da pressão atmosférica / orientação do vento e massas de ar.
Voltando a julho; observamos que ao invés do que é normal, o anticiclone dos Açores não se estendeu longitudinalmente em crista ao longo do Golfo da Biscaia, provocando as comuns correntes de leste na Península e calor em Portugal Continental. Verificamos, sim, que aquela alta pressão de bloqueio se deslocou para sul e ocidente do arquipélago que lhe dá nome, permitindo que as perturbações setentrionais atingissem a fachada noroeste da Península, e a emergência de um anticiclone que se estabeleceu na bacia mediterrânica, trazendo calor do Saara.