Estamos novamente em confinamento e desta vez é que é! E assim foi, ganhamos coragem e ousamos fazer zapping na imensidão de canais que possuímos e ignorávamos. Foi uma experiência incrível, vimos de tudo um pouco: informação à portuguesa; desporto; desenhos animados; filmes e séries; documentários; canais de informação estrageiros e a religião. Um fartote! Ainda assim, e após duas horas e tal se comando na mão, sobraram uns quantos canais por assinar e outros que nem entendemos para o que servem.
Mas, façamos um pequeno relato do nosso zapping (não encontramos palavra portuguesa equivalente e a expressão que a substitui é demasiadamente longa e chata), através do qual aprendemos onde vão parar os euros da mensalidade de televisão. Começamos pelos primeiros canais da lista. Tratam-se dos nossos canais genéricos de televisão e, com exceção da RTP2 e os horários informativos, mais valia não ocuparem banda; isto, a não ser que gostem de ver enormes intervalos publicitários ou pregões desvairados sobre números telefónicos de concurso e valor acrescentado.
Na segunda levada de canais surge o desporto que, na verdade, assume os contornos de combates de pugilato ou artes marciais. Neles discursam ex-jogadores da "bola", treinadores desempregados e comentadores "pau-para-toda-a-obra". Por aqui faz-se, na verdade, um belo de um exercício zapping, sobretudo para aqueles que não se importam de pensar e gostam de alguma ação à mistura.
De seguida vimos canais com gente a viver na floresta e a comer esquilos, dispensamos; vimos malta da fazer 1000 quilómetros para surfar numa praia cheia de pinguins, também não despertou; vimos concursos de culinária com gente a chorar, avançamos; e por último, malta a comprar e renovar casas por 1 milhão de dólares, não era bem para nós.
Quanto aos canais de desenhos animados, achamos piada a um ou outro, mas facilmente nos cansamos. Não sabemos se pela idade, se pelo perpétuo insistir no mesmo tom louco do Ren e Stimpy que pautou tanta coisa e ainda se perpetua. Falta de ideias? Talvez. A vaga seguinte surgiu com canais de filmes requentados e séries de "segunda apanha". Tal como os debates da bola, aqueles servem acima de tudo para entreter se não quisermos pensar muito, ou preparar um belo de um sono.
Estávamos à espera de encontrar muitos canais de música, mas não. Vimos uma MTV defunta com gente a pintar as unhas e falar sobre a ida ao cabeleireiro; o VH1 está permanentemente em modo aleatório, com música que vais desde os ABBA ao The Weekend; o MCM passa música com malta invariavelmente a cantar em conjunto com gandas "bólides" e cordões de ouro ao pescoço; boçal...
Já no fim veio um chorrilho de canais de suposto documentário e nada mais postiço! Honestamente, parece tudo combinado e encenado, até os poucos documentários com animais parecem tê-los hipnotizados ou quase sem dentes. Bolas! Nada como aqueles documentários de leões a comer zebras, quase que o cameraman também, onde se via o papa-formigas e fugir das hienas e documentarista a dormir entre gorilas e elefantes. Oh!
Por último, vimos informação estrangeira com aqueles pivots-robot, mas acabamos na igreja. É verdade, estivemos uns bons minutos a tentar entender o canal "Canção Nova", onde vimos uma freira de violão a tentar cantar qualquer coisa que nos escapou ao entendimento... Em suma, e apesar de tanto estímulo, acabamos o serão a tentar ler um livro intemporal: A divina comédia de Dante; também faz rir e é muito mais estimulante.