Detivemo-nos esta semana sobre uma dissertação de mestrado da arquiteta Lúcia Pedro, apresentada na FAUP em 2015, cujo tema nos é recorrente: as cidades enquanto objetos de um processo turístico. O Porto é um bom exemplo do tema, e sobre ele publicamos com regularidade, simples opiniões. Por isso, é interessante ler um estudo mais aprofundado sobre esta dinâmica, que urge, enquanto há tempo, de grande e envolvente reflexão.
O que pronuncia a tese? que a «arquitetura, o espaço público e o território têm sido constantemente construídos por símbolos que refletem as necessidades e vontades de um determinado tempo […] instalando-se cada vez mais nas cidades, as novas dinâmicas do turismo deixam nelas fortes marcas de modernização e de adaptação»1.
A autora, a este propósito, referiu esta semana à Lusa que «este fenómeno ocorre essencialmente pela necessidade que a cidade tem em estabelecer uma conexão de proximidade cada vez maior com o turista, principalmente internacional. Seja pela necessidade de criar formas que o apelem, como o caso da Casa da Música, assente sobre a ideia de ‘marketing’ visual, seja pela recriação de espaços de lazer, como o caso dos cafés da Rua das Flores, que se aproximam de uma imagem cada vez mais internacional em detrimento de uma imagem tradicional».
Mais adianta, «o típico café e tasca da Rua das Flores perdeu-se em prol de espaços que os turistas se identificam e que se aproximam de uma imagem cada vez mais internacional. Perde-se a singularidade do Porto, mas os turistas ganham uma imagem que reconhecem que se aproximam de uma imagem cada vez mais internacional».
Há um adágio popular que diz: em Roma sê romano. No Porto, ser portuense é uma valia, e aqui o ser portuense abrange um conjunto de aspetos que vão da arquitetura à gastronomia, passando pelo jeito voluntarioso que temos (todos os portugueses) em ajudar o turista.
Há uma barbearia quase ao fim da Rua de 31 de Janeiro, no Porto, gerida por dois irmãos, um já na casa dos 70, outro para lá dos 80, que faz um sucesso tremendo entre os turistas. Passam, olham, fotografam, cortam o cabelo, dialogam por gestos e adoram a experiência. Mais abaixo, já em Sá da Bandeira, há uma outra barbearia, renovada e sofisticada, pela qual os turistas passam e olham com indiferença.
1 «Arquitetura e espaço público do turismo e do lazer» – Lúcia Pedro, FAUP, Porto, 2015.