A seca na Califórnia.

sábado, 12 de setembro de 2015 · Temas: , ,

Há cerca de um mês, e na reta final do seu mandato, o Presidente Obama anunciou um plano de redução de emissões de carbono das centrais termoelétricas em 32% até 2030, face aos níveis de 2005. Esta medida surge integrada no «Plano Energia Limpa» que o atual executivo norte-americano criou há um ano, como resposta «[às] alterações climáticas  [que] não são um problema para outra geração. Já não são».

Surge esta intenção de ideias num ano cuja seca que grassa o estado mais populoso dos EUA, a Califórnia, com cerca de 37 milhões de habitantes e uma área três vezes superior à de Portugal Continental, atingiu proporções verdadeiramente dramáticas, mesmo no contexto do mais poderoso país do mundo.  

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Geograficamente situada na costa ocidental dos EUA, a Califórnia é um território de clima mediterrâneo, encravada entre o Pacífico, a oeste, e as Montanhas Rochosas, a este. É um território de paisagem rica e clima ameno, culturalmente abrangente, onde prosperam a vinha, os citrinos e as placas de silício.

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A terra pródiga atrai há mais de um século milhares de forasteiros do país e estrangeiros. Desde chineses a hispânicos, a par de uma grande migração interna, a Califórnia assume-se como uma terra dourada onde coabitam línguas, culturas e religiões. Esta massa humana, sobretudo concentrada nas grandes metrópoles (Los Angeles, São Diego e São Francisco), a par de uma agricultura intensiva, levou o estado californiano a realizar a grande obras hidráulicas1 que envergonhariam, pela dimensão, os ambientalmente impactantes transvases ibéricos2. Esta demanda de água para alimentar a região sul californiana, seca e densamente povoada, e uma agricultura intensiva, levou à construção de uma faraónica rede de albufeiras (vistas tanto como reservatórios de água como fontes de produção energética)  e canais para de transvase de água.

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Paradigmático é o caso do Rio Colorado, um dos mais importantes dos EUA, cujo curso se encontra completamente domesticado por barragens, centrais termoelétricas e albufeiras, as quais sofrem de enorme evaporação (cerca de 15%) levando a que hoje o rio quase não chegue à sua foz (Golfo da Califórnia), perigando uma série de espécies animais. O rio é basicamente desviado  através de um aqueduto de 390 quilómetros, que alimenta a região sul californiana.

Aqueduto do Rio Colorado

Curiosamente, os anos mais recentes em que o rio conseguiu transportar água ao seu término jusante, coincidiram com anos de El Niño, fenómeno que esperança os californianos no atenuar da seca.

Monitorização da seca na Califórnia

Não obstante toda esta infraestruturação, os sinais de seca são quase históricos, e a escassez de precipitação, a par das altas temperaturas que se verificaram nos últimos anos, conduziram este ano à pior seca do século naquela região.

Pressupõe-se que a peregrina intenção de Obama na redução de emissões de carbono para a atmosfera tem muito a ver com este drama ambiental norte-americano. Foi um ano particularmente complicado no que diz respeito aos incêndios florestais nos estados da costa oeste dos EUA.


Fontes: 1 California_State_Water_Project // Central_Valley_Project (Wikipédia) // 1 Colorado_River (Wikipédia) // 2 «De Espanha queremos bons ventos e boas águas», Paula Chainho – Visão Verde // National Oceanic and Atmospheric Administration // Why California Is Running Dry?  - CNN – 60 minutes // Running Dry (NBC) //Drought monitor

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