Gentrificação.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013 · Temas: , ,

Há um termo inglês que ainda não foi formalmente apropriado pela língua portuguesa, é portanto um estrangeirismo que, dado o seu significado, forçosamente entrará no nosso léxico. Trata-se do termo gentrificação que significa o processo de transformação imobiliária e social de uma determinada zona urbana, que dita o seu aburguesamento social e a saída das populações de mais fraco poder económico.

Surge-nos isto a propósito da muito falada renovação da baixa do Porto, liderada por uma empresa municipal criada para o efeito, a Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana, que bem há pouco esgrimiu com o governo central, as verbas necessárias para a continuação do seu processo de renovação urbana da Baixa portuense.

O trabalho desta sociedade tem dado, paulatinamente, frutos. Quem conheceu, como nós, a zona dos “congregados” e a vê agora estruturalmente renovada, reconhece mérito no esforço desta empresa, na cativação de investimento privado, na renovação do edificado e na atração / potencialização da zona do ponto de vista residencial e comercial. A par desta zona, também a área envolvente à Praça Carlos Alberto mostra o esforço desta Sociedade. Espera-se que o enorme quarteirão entre a Praça de D. João I e a Rua Formosa (quarteirão do BPA), pelo seu potencial, possa tomar rumo e deixar o marasmo de abandono a que está votado há anos.

Claro está que há sempre vozes contra estas intervenções, e ainda bem. Uns reclamam sobre o tipo de solução arquitectónica tomada, outros devido ao valor e tipologia dos andares reabilitados, outros devido à perda de autenticidade com a reabilitação de cinemas em hotéis, ou até mesmo com o material urbano usado na renovação das artérias. Este espírito crítico sensível, é próprio de quem gosta imenso da sua cidade, e o portuense é assim.

Contudo, olhando para o passado e atendendo ao realismo económico atual, as intervenções feitas na Baixa, no Mercado do Bom Sucesso, no Passeio das Cardosas, nos Loios ou no Águia d´Ouro, só para referir alguns exemplos, não nos chocam. Qual seria a alternativa? Esperar pela retoma económica? Houve acima de tudo pragmatismo, que devia ter sido levado com maior diálogo é certo, mas não vemos a cidade mais feia, muito pelo contrário. O Porto está mais bonito e continua cheio de alma e de genuinidade, dada a ação quotidiana das suas populações que são, a par de quem nos visita, quem mais interessa.

Voltando à gentrificação. O risco que o Porto corre não é aquele que transforma um antigo cinema degradado num hotel, ou rasga o interior de um quarteirão para nele construir um praça; o risco que o Porto corre é o da perda das suas gentes, aquela de sotaque que seca a roupa nas varandas e enche de alma a cidade.

O vídeo acima proposto é, em poucos minutos, a captação dessa alma genuína que poucas cidades da nossa dimensão podem afirmar ter. É um olhar neutro, estrageiro, sobre a cidade, e o resultado é a diferença, uma cidade sem lugares comuns, com especificidades atraentes. Foi realizado pelo norte-americano Brett Novak a convite do Canal180, com o apoio do Turismo Porto e Norte, «para que captasse a essência da cidade à luz do seu olhar, o resultado foi um filme impressionante, com  detalhes, texturas e vivência da invicta a ganharem uma nova perspectiva, a de quem vê o quadro na parede com a distância necessária e com a criatividade em estado puro. Ver para crer/querer».


Fontes: 5cidade.com /canal180.pt / porto.taf.net / portovivosru.pt

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