Deserto do Atacama: o local mais seco do mundo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010 · Temas:

A diferença climática existente entre os desertos periglaciares canadianos e as regiões agrícolas e florestais do sul da Escandinávia, situadas à mesma latitude de 60°N, demonstra a importância da corrente do Golfo no clima europeu e mundial. Efectivamente, na mesma altura do ano, e naquelas duas regiões de igual latitude, as temperaturas de Inverno podem diferir cerca de 15ºC a 20ºC, tornando a vida humana quase impossível na região norte do Canadá.
 

Contudo, a corrente do Golfo é apenas uma peça de uma engrenagem bem maior, denominada por Conveyor Belt (correia transportadora). Este circuito de correntes marítimas é o mecanismo primário de transferência do calor dos trópicos para altas latitudes (e vice-versa) e é a razão pela qual nascem, espontaneamente, palmeiras em plena costa sul da Inglaterra (Hoffman).
 

 
Mecanismo e importância do upwelling.
 
A costa Ocidental Sul Americana que banha o Peru, o Chile e o Deserto do Atacama, é atravessada longitudinalmente, no sentido Sul-Norte, pela corrente fria do Peru (ou corrente de Humboldt). Esta provoca um efeito denominado por upwelling que consiste no afastamento das águas quentes da superfície do oceano e forçosamente a subida das águas profundas e frias do mesmo.
 


Sendo as águas frias e profundas ricas em nutrientes, os locais onde se verifica este fenómeno, correspondem, geralmente, a faixas litorais muito ricas em peixe. É o caso da costa de Marrocos e da Mauritânia, mas também da costa sul de Angola e, sobretudo, da costa ocidental da América do Sul.
 
O Atacama, o deserto mais seco do mundo.
 
O Deserto de Atacama é uma estreita faixa de território com cerca de 200 quilómetros de extensão, comprimida a leste pela cordilheira andina e a oeste pelo Oceano Pacífico.


 
Possui um clima caracterizado por uma grande amplitude térmica diária (que oscila entre os 0°C e os 40°C), e por uma secura extrema. Esta falta de chuva deve-se a três factores que se conjugam:
 
a) A barreira de condensação andina;
 
b) A inversão térmica causada pela corrente fria provinda da Antárctida;
 
c) O Anticiclone do Pacífico.
 
Os Andes, uma cadeia de montanhas que se estende desde a região norte do sub-continente Sul-americano até ao extremo sul, na Patagónia, impedem que os ventos húmidos provindos de este, e do Atlântico, a transponham, provocando aquando da sua “tentativa” de ultrapassagem, uma subida em altitude que provoca a condensação do vapor de água e a consequente formação de nuvens e precipitação. É este fenómeno que alimenta a bacia hidrográfica do maior e mais poderoso rio do mundo, o Amazonas.
 

 
Do outro lado da vertente, a oeste, o vento que ultrapassa o cume e desce a montanha sopra seco e provoca uma alta pressão na zona do deserto, que afasta a mínima possibilidade de formação de nuvens. Estes ventos descendentes e de fraca humidade criam, deste modo, condições para um intenso aquecimento solar durante o dia e um acentuado arrefecimento durante a noite, dada a sua fraca capacidade de provocar efeito de estufa.
Por sua vez, a corrente fria de Humboldt provoca uma inversão térmica na atmosfera (isto é, quando uma faixa atmosférica mais próxima do solo apresenta uma temperatura mais baixa, o que contaria a norma) que afasta a possibilidade da subida do ar (quente e leve) e a consequente condensação do vapor de água e ocorrência de chuvas.
Por último, o anticiclone do Pacífico, que reside nesta latitude, contribui igualmente para o afastamento de situações de precipitação.
 
A falta de precipitação define um deserto, mas isso não significa que a mesma nunca ocorra neste local árido. De vez em quando, um fenómeno de aquecimento sobre o Oceano Pacífico em torno do equador (o El Niño), provoca a mudança de todas as variáveis deste complexo puzzle climático, provocando chuva até nos locais mais secos do mundo.

Fontes: 
Instituto de Oceanografia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Doug L. Hoffman - The Resilient Earth

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