Deixarmo-nos ir.

terça-feira, 31 de maio de 2016 · Temas: , ,

Portugal é um país delicioso para nos perdermos conscientemente. Ousar o rendilhado rural dos caminhos do norte, os vales e montanhas do centro, o horizonte do sul, ou o verde das ilhas, não é apenas uma ato de prazer, é um dever para com a nossa essência caminhante.

Desde há séculos que realizamos jornadas de dezenas de quilómetros. E se no passado se revestiam de um caráter eminentemente religioso, peregrinatório, atualmente, os mesmos percursos, e milhares de outros, assumem um caráter sobretudo desportivo e turístico, desenvolvendo-se em torno de elementos naturais e culturais proporcionados pela paisagem, numa pratica denominada por pedestrianismo.

S.Torcato e Moinhos-033

Este termo, que deriva do latim pedestris e, por evolução, do termo inglês pedestrianism, que designava o que vai a pé, foi introduzido em termos desportivos, pelo menos desde os anos 30 do século XX, tendo-se vulgarizado em meados de 1990 para o desporto de andar a pé, por caminhos, sinalizados ou não, isentos de dificuldades técnicas, cujo objetivo é, não a competição, mas a pura fruição do território.

É sobre esta fruição que fala este artigo, sem sobranceria, pois sabemos que há muita gente leitora do Geopalavras a praticar esta modalidade turística há muito, onde pretendemos relatar, de um modo quase pessoal, como rentabilizar a tecnologia, smartphones, GPS e computadores, na pratica do pedestrianismo.

Assim, referir que os smartphones possuem, na generalidade, de um ou mais sistemas de geolocalização, é uma banalidade; afirmar que é possível fazer o download de percursos pedestres em formato GPX ou KML, e utilizar uma aplicação adequada para a ler e interpretar georeferenciadamente um percurso, tendo a possibilidade de gravarmos / criarmos o nosso próprio, já não é tanto. De facto, existem várias aplicações nas “app stores” que potenciam os nossos smartphones na pratica do pedestrianismo, mas que são desconhecidas da maior parte dos caminhantes. Delas, destacaremos três, fáceis de utilizar e, acima de tudo, gratuitas.

A primeira é o OruxMaps, que lê ficheiros (percursos pedestres) em formato GPX e KML. É uma aplicação que permite navegar offline com base no OpenStreetMap, e permite gravar os nossos próprios percursos, sobrepor percursos e analisar estatísticas sobre os mesmos(variações de altitude, kms por por hora, distância entre pontos, etc).

OruxMapsGPX ViewerGeo Tracker

O GPX Viewer é de utilização mais simples e objetiva. Permite utilizar igualmente ficheiros GPX e KML, e tem uma base cartográfica mais variada (Google Maps, Mapbox, HERE e OpenStreetMaps), que requer uma ligação à internet. Por último, o Geo Tracker, é em tudo semelhante ao anterior, difrenciando-se pela possibilidade de gravação dos nossos percursos.

Quanto à obtenção dos percursos em formato GPX e KML, podemos apontar o Wikiloc, um sítio da internet, entre muitos, que agrega trilhos de todo o mundo, adicionados pelos utilizadores, de forma colaborativa. Este sítio permite procurar e descarregar percursos, consultar pormenores sobre os mesmos, e pré visualiza-los de um ponto de vista altimétrico. Inclusivamente, podemos registar os nossos percursos, disponibilizando-os publicamente, submetendo-os à critica da comunidade.

ValongoWikiloc

Claro está que a utilização de um guia, um mapa impresso, ou mesmo a simples descoberta do percurso através da sua sinalética, que define o caminho e aproxima os utilizadores ao território, é bastante. Não obstante, o complemento proporcionado pelas referidas tecnologias, intensificam a experiencia do caminhar, quer num meio mais naturalizado, quer mesmo nos percursos pedestres em ambiente urbano, que paulatinamente se têm tornado em desejados produtos turísticos. Bons percursos!


Fontes:
  • - Percursos, território e património: o caso de Vila Nova de Gaia - Fábio Daniel Almeida Ferreira, FLUP, 2011.
  • - Avaliação da qualidade dos percursos pedestres homologados em Portugal - Bárbara Santos Brandão, ESHE, 2012.

- pt.wikiloc.com // fcmportugal.com // Diário da República, 1.ª série — N.º 94 — 15 de Maio de 2009

Deixa um comentário