A Lixa segundo o Guia de Portugal.

domingo, 1 de maio de 2016 · Temas: , ,

Os Guias de Portugal são reconhecidamente os roteiros geográficos, históricos e etnográficos mais completos sobre o nosso país. Constituem-se em IV volumes, que cobrem Portugal Continental de sul a norte, sendo o I volume dedicado a Lisboa e arredores, o II volume à Estremadura, Alentejo e Algarve, o III às Beiras (tomo I e II) e o IV, ao Douro Litoral (tomo I), Minho (tomo II) e Trás os Montes (dois tomos).

Guia de Portugal

São, acima de tudo, uma obra de turismo literário, iniciada e organizada por Raul Proença, que reuniu para o primeiro volume, nomes como Aquilino Ribeiro, António Sérgio,Teixeira de Pascoaes, Júlio Dantas, Pina de Morais ou Orlando Ribeiro.  Os seguintes volume teriam a chancela da Biblioteca Nacional, sendo que os quatro tomos (1964-1970) do IV volume foram editados pela Fundação Calouste Gulbenkian, numa organização de Sant'Anna Dionísio.

No tomo dedicado ao Douro Litoral, faz-se referência à então Vila da Lixa do seguinte modo:

«[…] Lixa, vila de 3000 hab., de meia altitude (350 m.), assente numa airosa chã, sobre a linha divisória das águas do rio Sousa e do Tâmega […] Na Lixa, no local marcado pela ermida de N. Sr.ª das Vitórias, travou-se uma das últimas refregas da Guerra Civil, entre Miguelistas e Liberais, na Primavera de 1834 […].

GuiaPortugal IV Tomo I - Página 574

Entre outros pormenores de cariz sobretudo histórico e geográfico, já então é focado o caracter reivindicativo da Vila perante a sede de concelho, Felgueiras, que ainda hoje se perpetua e manifesta num bairrismo muito enraizado:

«A vila é modesta, mas acolhedora e airosa. A artéria principal, para não dizer única (de 2 km), é a estrada que a liga à sede do concelho (Felgueiras) com a qual mantém, como é da praxe entre terras vizinhas, uma relativa emulação, não expressa, no entanto, à maneira antiga das aldeias de Basto, pelo uso rodopiante do varapau, mas da simples e inofensiva reivindicação de verba para algum novo fontenário ou campo desportivo».

GuiaPortugal IV Tomo I - Página 575GuiaPortugal IV Tomo I - Página 576

Os Guias de Portugal ganharam recentemente uma edição ebook, que simplifica, realmente, o transporte dos pesados e densos volumes que nos oferecem uma prazerosa intensa descoberta do nosso país, que recomendamos vivamente!

Segundo Francisco Seixas da Costa, este tipo de publicações são importantes na criação de uma ideia de um país e no imaginário dos leitores. Senão, repare-se na divisão dos quatro volumes, assentes nas províncias elaboradas por Amorim Girão, e consumadas em 1936, que perduram no vocabulário geográfico comum, à mistura de todo um rol estereótipos da inerentes àquela divisão do país: o galo de Barcelos e o Minho, o Alentejo, a camponesa e a seara, ou o Douro e o vinho do Porto.

Se o primeiro volume desta série surge ainda no conturbado contexto político que mediou a 1ª República e a instituição do regime fascista (28 de maio de 1926), a crescente atenção sobre o turismo,  a par das ideias regionalistas do Estado Novo, condicionaram os dois volumes seguintes, editados pela Biblioteca Nacional, e o último, pela Fundação Calouste Gulbenkian. 


Fontes: Uma viagem ao passado com os Guias de Portugal – Expresso – Março 2015 // duas ou três coisas – Guia de Portugal – Francisco Seixas da Costa // Wikipédia // Fundação Calouste Gulbenkian

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