O Porto, o turismo, o cravo e a ferradura.

domingo, 28 de fevereiro de 2016 · Temas: , ,

Como muitos, assistimos quase incrédulos à transformação do centro do Porto em prol do turismo, ou derivados, que transforma lojas tradicionais em hotéis, “nouvelles” espaços “gourmet” ou lojas de “souvenirs” com galos de Barcelos ou santos populares vestidos de homem-aranha, para turista ver, numa atitude que se apelida de cosmopolita.

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A vertigem é tal, que nada parece escapar à fúria reformista do “cool” e do turbilhão turístico, que tanto tem de bom como de mau. Como já referimos por inúmeras vezes, se o turismo é bem-vindo, este não poderá ser à custa de uma cegueira especulativa que repele os locais e transforma lojas seculares em coisas iguais a tantas outras, sacrificando cegamente aquilo que a tornou diferente e atrativa: uma genuína tradição comercial, gerida por gente de sotaque, cujos produtos ainda se cortam, pesam, contam um a um, e embrulham papel de embrulho, daquele grosso e raro.

Mercearia Oriental interior Porto

Isto a propósito de mais uma nuvem negra no comércio tradicional portuense, com o aparente fecho e mudança de conceito da secular Casa Oriental, uma mercearia situada a poucos metros da Torre dos Clérigos, cuja tipicidade das montras, que misturavam fruta, bacalhau e vinho do Porto, rivalizavam com o ex-libris barroco que, segundo Teixeira de Pascoais, mimetiza o Porto “espremido para cima”. E, se a torre é a alma portuense, e merece ser preservada, a mercearia é uma homenagem ao empreendedorismo nacional e à nossa riqueza multicultural

«A Casa Oriental, 1910 junto à Torre dos Clérigos e começa por comercializar produtos das colónias orientais e africanas. O café, o chocolate e os chás vendidos desde o início do século XIX, ainda hoje são evidenciados na fachada desta famosa mercearia, com a representação de uma cena da África Colonial, um atractivo para todos os turistas que visitam o Porto» (www.casaoriental.pt).

Aparentemente, e segundo informação aqui publicada «a Casa Oriental abrirá sobre nova gerência e conceito, talvez ao estilo do que aconteceu à mercearia Pretinho do Japão». Felizmente, há muita gente preocupada com esta temática que, inclusivamente, já mereceu a atenção dos responsáveis autárquicos de Lisboa, com o programa Lojas com História. Esperemos por uma iniciativa similar e urgente por parte da autarquia portuense.


Fontes: amasscook.com  // publico.pt // cm-lisboa.pt

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